Lembram-se do que escrevemos por ocasião do nosso primeiro jogo desta época contra os Veteranos do S.L. Marinha? Começava assim: “jogo ingrato e derrota injusta”. Aplique-mos-lhe finalmente, e felizmente (porque o destino nem sempre persiste em pregar-nos partidas, por vezes acaba mesmo por ter sentido de justiça), a boa arte da antonímia e temos desta vez a mais certa e adequada descrição daquela que foi a nossa última partida contra os Veteranos do União de Leiria (consta que há 17 anos que não os defrontávamos) decorrida no Campo da Mata em Santa Eufémia sob muito sol e bancadas repletas de calor. Para quem a este ponto da crónica ainda não percebeu como fazer o exercício de antonímia anteriormente sugerido, dizemos que foi um “jogo compensador e vitória justa”.
Compensador e justo porque, sobretudo, houve sofrimento e muita luta, infortunadamente com poucos efeitos na primeira parte, onde apesar do golo de Hélio Aurélio, obtido através de um belo pontapé de ressaca, rasteiro e tenso, de fora da área, e que na altura empatou o confronto, a verdade é que caminhámos todos para os balneários, quer dizer para o banco (não fossem as seis garrafas de água extinguir-se em três goladas), a perder por dois tentos infantilmente cedidos, sem esquecer uma oportunidade clamorosa desperdiçada pelo autor desta crónica na sequência de uma evidente grande penalidade não assinalada (não necessariamente por esta ordem) por mão na bola (aqui sim, por esta ordem).
Ora, também nessa primeira crónica, o nosso guardião Carlos Correia foi mais ou menos de forma carinhosamente eufemística descrito como “frangueiro” devido ao golo então sofrido; e como não há fome que não dê em fartura, tempestade que não dê em bonança, nem regra sem excepção (se tiverem outro provérbio do género sintam-se livres de o aplicar), o epíteto “Chefe” desta vez serviu-lhe tão perfeitamente como o elegante chapéu de camionista que nessa tarde decidiu envergar durante toda a segunda parte (fazemos votos que continue a fazer uso deste acessório especialmente como amuleto) surgindo aos olhos do mundo do futebol tão reabilitado para a prática desportiva quanto seguro entre os postes.
Obviamente, isso deu bons frutos, pois não só a nossa baliza se manteve inviolável, como a dupla de avançados composta tanto pelo autor desta crónica como pelo Rúben Silva resolveu em boa hora inserir, e após inúmeras oportunidades acumuladas, o esférico entre o intervalo dos mesmos, não sem algum grau de suspense hitchcockiano no caso do primeiro que, imbuído de óbvio sentimento de perversidade decidiu ainda tirar um pouco de tinta ao ferro, e fechando com chave de ouro, no caso do segundo, uma belíssima jogada de entendimento na ala direita desenhada com enorme classe e belas linhas aritméticas – as quais deveriam ser alvo de estudo da ciência – pelos pés do Sérgio Ventura, o autor desta crónica e o Abel Lopes (sim, leram bem, o Abel Lopes) antes de terminar num antológico cabeceamento de Rúben Silva em antecipação ao guarda-redes adversário que preferiu protestar por mão na bola em vez de se prevenir face à sombra maléfica do nariz do nosso dianteiro.
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