Gostaríamos de ter iniciado esta crónica dizendo que a derrota com os Veteranos do S.L. Marinha na tarde do passado sábado – em jogo antecipado da nossa época desportiva e contra a equipa anteriormente destinada a abrir e a encerrar o nosso calendário atual (temos felizmente agora as portas abertas para fazer de Kiev o verdadeiro fecho das festividades deste ano) – tinha sido produto de uma malévola conspiração obscuramente armada pelo Conselho de Arbitragem, mas temos dúvidas de termos visto o que comummente apelidamos de árbitro a apitar dentro de campo. Gostaríamos também de ter iniciado esta crónica dizendo que o insucesso na partida dos Veteranos do Ginásio, absolutamente extasiados e encantados perante a imponente e majestosa ascensão da Super Lua, se tinha devido à vergonhosa e pérfida interpretação dos lances pelo VAR, mas a realidade é que nem uma alma penada havia nas bancadas capaz de emitir uma opinião mal formada sobre os lances mais duvidosos ali decorridos quanto mais dez câmaras estrategicamente colocadas.
Gostaríamos ainda de ter iniciado esta crónica dizendo que a espetacular exibição dos “azuis” havia apenas soçobrado face ao conluio de uma série de e-mails enviados pelo Pedro Guerra aos amigos no seio do “sistema” (afinal o Sport Lisboa e Marinha não deixa de ser uma filial do Sport Lisboa e Benfica), mas a verdade é que afirmar isso seria, digamos assim, e abordando a questão com algum grau de educação e inteligência, simplesmente… estúpido. Gostaríamos, quem sabe, de ter iniciado esta crónica dizendo que a vitória do adversário tinha sido espelho de uma evidência clara e perfeitamente justa de uma formação que soube em boa parte do tempo regulamentar tratar bem o esférico, dominar os ritmos de jogo e gerir com eficácia a posse de bola, superiorizando-se a maior parte das vezes nos vários momentos do jogo (com exceção dos confrontos diretos em que se envolveu o Pedro Fróis) e dos quais nasceram dois golos naturais, mas isso seria promover a honestidade desportiva e em Portugal só quem é parvo ou mariquinhas é que faz uma coisa dessas.
Mas nem tudo foi mau: o Paulo Peça reapareceu para o convívio com os antigos colegas depois de ter desaparecido durante o verão passado no meio da selva amazónica para um retiro espiritual do qual regressou totalmente curado do vício de fumar mantendo intacta, contudo, aquela inabilidade crónica do par de pés que tanto o caracteriza na prática do futebol. E porque não realçar o fantástico desempenho do avançado Rui Alexandre a fiscal de linha durante toda a segunda parte a fazer esquecer tudo o que havia feito nas quatro linhas e que espremida a nossa memória foi um fora de jogo influenciado pelo crepúsculo que, garante ele, o ofuscou no preciso instante da desmarcação (não será excessivo admitir que parece-nos ter descoberto finalmente a sua vocação como bandeirinha)? Ou o tradicional pedido de substituição do António Carvalho a meio da primeira parte cujo temperamental gémeo desta vez conseguiu aguentar, apesar de tudo, mais dez minutos do que há quinze dias atrás? Temos esta qualidade: olhamos sempre para o copo meio cheio.
Passemos, no entanto, à descrição do nosso golo, criado a partir de uma secreta e sinistra troca de identidades dentro de campo realizada entre o David Mariano e o Hélio Aurélio, com o primeiro a interpretar o papel do segundo e o segundo a interpretar o papel do primeiro (parecia a revisitação futebolística do clássico do Mark Twain “O Príncipe e o Pobre”, imaginem), concretizando com um bonito chapéu à saída do guardião contrário um passe belissimamente rasgado do meio campo que deixou completamente abananados a dupla de centrais vinda da Marinha Grande – um golo tão útil nessa altura como o SIRESP costuma ser em caso de emergência. É óbvio que poderíamos igualmente terminar esta crónica recorrendo à célebre máxima: “se o Carlos Correia não tem vindo ao jogo tínhamos ganho por 1 – 0”, mas não vamos fazer isso ao rapaz, pois consta que a esposa dele acompanha religiosamente estes textos e nós queremos preservar no seio do grupo aquela preciosa gargalhada (aaaaaaaaaahhhhh!!!) que tão delicadamente nos afaga e acaricia os tímpanos.
Marcador: Hélio Aurélio