Gostaríamos muito de ter começado esta crónica por uma bela citação bíblica para descrever aquilo que foi o nosso jogo de passado sábado na receção aos Veteranos do Lusitano de Évora, mas infelizmente um juiz da Relação do Porto passou-nos a perna e adiantou-se em matéria de citação religiosa, de modo que para não sermos acusados de falta de originalidade resolvemos deixar de lado as páginas do Livro do Apocalipse – sem dúvida o mais adequado ao contexto que vivémos – e passar a resumir o confronto com esta equipa histórica do Alentejo (que no século passado chegou a conviver com os grandes dos escalões principais e ainda há pouco tempo acolheu o F.C. Porto no Restelo para a Taça de Portugal) como aquilo que verdadeiramente foi: um cataclismo.
Se a pesada derrota contra os aveirenses já tinha sido uma espécie de Fase Delta no fim de semana anterior, esta foi para nós a Fase Bravo com a diferença de em vez de terem decorrido quatro meses entre uma tragédia e outra aqui ter havido apenas uma semana de intervalo. Mas nem tudo foi mau: voltámos a poder exibir novamente a nossa falta de eficácia atacante e permeabilidade defensiva no Estádio Municipal de Alcobaça, pois, por incrível que pareça, não havia mesmo outras partidas marcadas para o mesmo dia e hora. Parecia até que o profeta Moisés nos havia aberto passagem através das águas do Mar Vermelho com o seu imponente cajado para ali passearmos toda a nossa qualidade e talento como equipa, características que infelizmente, como o VAR no jogo do S.L. Benfica com o Desportivo das Aves, nos falharam na última meia hora de jogo.
Foi nesse maldito período, aliás, que sofremos boa parte dos golos, três a par de um na primeira parte e outro no início da segunda, que ajudaram o resultado a atingir proporções épicas: cinco tentos sem resposta. Contudo, quem tivesse visto a primeira parte não diria que tal viria acontecer depois de mais uma sucessão de golos falhados pelos nossos atacantes – facto que infelizmente parece ter-se tornado um hábito neste últimos tempos – além de uma grande penalidade falhada pelo Rúben Silva que em ocasiões destas só costuma desperdiçar a não ser que tenha apostado contra si próprio no Placard (não estamos a sugerir nada, mas estamos atentos e vamos investigar seriamente o caso pedindo que seja aberto um inquérito exaustivo junto de um vasta comissão de especialistas).
Contas feitas: doze golos sofridos e apenas dois marcados nos dois últimos jogos expõem a debilidade de uma equipa que esta semana abanou mais do que a geringonça face ao discurso do Presidente da República ou à moção de censura apresentada pela oposição no plenário da Assembleia da República. Talvez seja altura, portanto, de pensar em reformas ou então deixar estar e ficar quietinho que a coisa acaba por passar, o que como todos sabemos costuma ser a mais sábia resolução e panaceia lusa para os nossos maiores males. Quem vai pagar todos estes desaires? A Velha Guarda de São Martinho do Porto, obviamente.