Os “azuis” vinham de uma vitória moralizante na Marinha Grande e por razões que também neste caso a razão parece tantas vezes desconhecer tudo voltou a correr bem, isto quando tudo podia ter corrido mal (e de facto podia: mas já lá vamos), nomeadamente contra os nossos amigos do C.A. Mirandense que ainda não há muitos anos se haviam cruzado connosco e que mesmo então nos tinham deixado ótimas memórias, e aqui não estamos a falar de futebol, que para estas coisas conta pouco, estamos a falar sim da bela Chanfana que aconchegou o nosso estômago depois da visita a este simpático grupo nessa bela noite de final de época – e que o diga em especial o nosso irreverente e voraz companheiro António Carvalho que na altura não só não foi egoísta com a comida como regurgitou e devolveu essa iguaria tão portuguesa ao canteiro que adorna a entrada da nossa Sede (ele saberá melhor dizer o sentimento que ainda reserva no seu íntimo desse gesto tão caridoso para com as nossas plantas).
O António Carvalho que também neste confronto (não há coincidências: o homem tem mesmo algo por resolver com os ares de Miranda do Corvo) tornou a ter um gesto caridoso com os seus colegas ao responder à limitação muscular do seu gémeo, corriam poucos minutos do apito inicial, resolvendo de imediato levantar o bracinho para o ar, suspender tudo e pedir a devida substituição (estás a ver Rui Alexandre como não custa nada?) – uma acção que permitiu a entrada do Pedro Fróis em campo, facto que não alterou em nada a fraca exibição da equipa até esse instante, excetuando a incitação de três ou quatro piruetas dos respetivos adversários que desconhecendo o poderio físico do nosso médio resolveram tentar passar por ele com a bola controlada – ora conhecem aquele ditado que diz: “se a montanha não vem a Maomé, vai Maomé à montanha”? Não tem nada a ver. Aqui foi o mais o Maomé que foi contra a montanha e penso que não será necessário dizer que o Fróis simboliza neste contexto a montanha e Maomé os jogadores contrários.
Com um nulo ao intervalo a premiar mais a ineficácia atacante e o laxismo defensivo dos Veteranos do Ginásio do que propriamente o atrevimento ofensivo dos Veteranos do A.C. Mirandense, os verdadeiros milagres surgiram na segunda parte. Milagre nº1: a permanência do Maurício Marques na partida que acabaria por completar os 80 minutos na sua íntegra (e aí todos nós percebemos que algo de maravilhoso estaria para acontecer nessa tarde). Milagre nº2: nova assistência fenomenal do Gonçalo Ferreira para o primeiro golo do autor desta crónica (para os mais desavisados o autor desta crónica e o David Mariano são uma e a mesma pessoa – esperamos não ter de regressar no futuro a este assunto) a responder finalmente com eficácia (golos falhados até essa altura: quatro ou cinco, dentro da média habitual deste avançado, portanto) a um fino e engenhoso centro da esquerda do extremo adaptado (e lamentamos profundamente a ausência do Jorge Carmo que assim falhou a oportunidade de ser instruído pelo cunhado nas boas regras de construção de um cruzamento).
Milagre nº3 (que tal como mandam as leis de Fátima são sempre três): o segundo golo que nasceu de um canto tenso apontado ao segundo poste pelo Maurício Marques (percebem agora a influência nas cartas do destino que este jogador teve?) e cujo escandaloso cabeceamento ao poste do David Mariano, em cima da linha, viu a bola tabelar-lhe no peito e daí para as malhas da baliza (nem num filme de Hitchcock alguma vez assistíramos a isto) – e até tivemos dúvidas a quem entregar o golo, se ao poste, se ao atacante, mas como isso cabe ao autor da crónica, foi imparcialmente deliberado que seria do David Mariano que assim bisaria (com muita bizarria) no encontro. A terminar, claro, tivemos ainda a habitual assinatura do Carlos Correia no desafio ao expirar dos minutos finais com mais um golo sofrido, embora sem consequências para uma vitória claramente estabelecida por 2 – 1 (onde contudo não podemos deixar de afirmar: “se ele não tem vindo ao jogo tínhamos ganho por 2 – 0”), e devolvendo apesar de tudo ao mundo a sua merecida aura de normalidade. Não foi Shakespeare quem escreveu um dia: “tudo está bem quando acaba bem”? Foi. E teve tudo a ver.
Marcador: David Mariano (2)