E finalmente, os Veteranos do Ginásio chegaram a uma série de três vitórias seguidas. Qual o motivo para realçar tal facto na abertura desta crónica? A simples razão de que esta época ainda não o havíamos atingido. Muito menos pelos números alcançados: cinco golos contra dois apenas sofridos. Mas calma, que nesta altura já nos estamos a adiantar. Primeiro, temos de cumprir aqueles requisitos típicos destes textos. Tais como? Referir o tempo que há dois meses é o mesmo: chuva, neste caso aquela morrinha chata que se entranha nos pontos mais recônditos do corpo humano. Informar o nome da equipa adversária: se até este momento não foram capazes ler o cabeçalho, parabéns, estão oficialmente pitosgas e passamos a esclarecer que se tratou do U.R. Mirense. Assim como o local da partida: ora, aqui têm desculpa porque na realidade nada vos seria capaz de indiciar que o jogo havia sido disputado em casa emprestada, nomeadamente no campo sintético de Porto de Mós, onde, parafraseando a original máxima do Carlos Carvalhal, nunca tínhamos perdido contra a equipa de Mira d’Aire pelo mero facto de nunca ali termos jogado antes contra eles.
Estava frio e cinzento, é verdade, mas a primeira parte dos azuis foi colorida e esteve perto da perfeição. Os mais atentos e otimistas diriam que tudo se deveu a um pequeno conjunto de pormenores significativos ou perfeitamente irrelevantes (riscar o que não vos interessa): o Rui Alexandre ter ficado no banco impedido por uma lesão providencial, a recolocação de Sérgio Ventura na frente de ataque depois de anos a ocupar os lugares de central, médio-esquerdo, trinco, médio-direito e libero – não necessariamente por esta ordem –, e a inspirada e eficaz exibição do autor desta crónica (parece um paradoxo dado os últimos desempenhos, mas a expressão eficácia deve ser lida na sua mais extrema literalidade) que almejou concretizar o seu segundo hat-trick da época. Também podíamos acrescentar a frenética e eletrizante performance do nosso guardião Carlos Correia durante a primeira parte deste confronto, na qual até se dava ao luxo de desviar bolas rematadas à baliza com os seus gritos de matrona histérica. Já os mais críticos e pessimistas diriam que tudo não passara de pura sorte.
Contudo, dizer isso da primeira parte seria, digamos, a modos que imbecil ou até néscio. Foi sorte o Ventura dominar uma bola dentro da área após um centro, fintar um par de defesas e o guarda-redes e marcar praticamente na primeira vez que rematou à baliza? Foi sorte o David Mariano fazer dois golos em apenas três remates à baliza quando a sua proporção estatística anda bem mais perto de uma concretização com sucesso a cada seis remates? Foi sorte o Hélio Aurélio ter pegado na bola e correr meio campo com ela passando pelos médios e pelos centrais quase sem oposição sempre em direção à baliza contrária, fintando de forma egoísta e sadicamente mais um ou dois adversários antes de fazer golo sem nunca passar a bola a ninguém? Não, a sorte nada teve a ver com isso. Ou como diria o saudoso Bula: “deixa lá disso!” Portanto, foi com muito mérito que os ginasistas chegaram ao intervalo: vencendo tranquilamente, ou até desdenhosamente, por quatro bolas sem resposta.
Contudo, a segunda parte veio e com ela uma entrada em campo absolutamente displicente e boçal dos alcobacenses, demasiado confiantes nos números largos almejados antes da pausa, a que se juntaram também um par de grandes penalidades extremamente duvidosas que só o árbitro parece ter visto e que mais desesperados deixaram os nossos defesas Aníbal Oliveira e Álvaro António – clamando em gestos veementes e clamorosos por uma justiça que nunca chegaria após os lances de que se viram tão estupidamente acusados. Salvou-se, no entanto, e antes do apito final, o golo do David Mariano, que resolveu imitar o tento do Hélio Aurélio nessa mesma tarde, mas desta vez em bom, e correr igualmente meio campo com a bola ultrapassando três oponentes em velocidade pura e desfeiteando mais uma vez o guarda-redes mirense com um desvio subtil que deixou o castelo no topo da vila portomosense embasbacado com tão profunda genialidade futebolística. Golpe de sorte? “Deixa lá disso!”
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