Veteranos do Ginásio Vs. Veteranos do U.R. Mirense: 2 – 0

Veteranos do Ginásio Vs. Veteranos do U.R. Mirense: 2 – 0

19 Dezembro, 2017

Vamos começar este texto por onde naturalmente deve começar: o seu autor – até porque como um e outro muitas vezes acabam por se confundir, olhando para a partida do último sábado, temos de admitir que foi ele um dos grandes intervenientes do dia. Não que o autor tivesse contas a ajustar com o equilíbrio cármico do universo, e o mais provável era que tivesse, vamos admitir que sim, pois desde que o Jorge Jesus perdeu o campeonato para o Rui Vitória, apesar dos seus 86 pontos contra os “otchenta e otcho” do rival, que sabemos que o Cosmos não brinca nestas coisas. Tratou-se mais de um caso de justiça poética e simbólica – e chegados a este ponto do texto já estamos a ver os nossos amigos Rui Alexandre e António Carvalho a esboçar um inequívoco e malicioso sorriso do género: “toma lá que é para aprenderes”. Tudo isto para dizer o quê? Que o David Mariano entrou, portanto, para essa galeria de notáveis “lesionados neurológicos” onde os jogadores atrás referidos já há muito constavam com incontáveis episódios do género.

Com uma diferença substancial: tudo isto sucedeu ao fim de 54,8 segundos de jogo contra os Veteranos do U.R. Mirense e após duas simples receções de bola (a verdade é que este jogador eleva sempre os números a todo um outro nível) – saindo de campo com o indicador direito erguido e tristemente agarrado ao adutor esquerdo. Mas o pior ainda estava para vir: a partilha solitária do banco com o Enderson Domingos durante os tortuosos 40 minutos da primeira parte – uma experiência para a qual não estávamos minimamente preparados e que não desejamos a ninguém, nem ao nosso pior inimigo, nem, sei lá, ao Bashar al-Assad ou ao Bruno de Carvalho. Confessamos: o facto tem-nos custado até à data pesadelos inquietantes e estamos sinceramente a pensar alegar stress pós-traumático junto de uma qualquer associação que nos represente ou, quem sabe, criar uma de raiz (“Raríssimos” parece-nos um bom título) e que um dia nos permita adquirir fatos Armani, empregar a família ou ter um caso extra-conjugal com uma Secretária de Estado.

Ora, depois de termos dedicado dois parágrafos inteiros ao mais importante, resta-nos concentrar no acessório: o jogo. Que como todos nós sabemos, passado o primeiro minuto e em resultado da ausência acima relatada, se tornou aborrecido, lento, previsível, boçal, um tédio de morte só abanado pelos permanentes gritos e risinhos histéricos do Enderson Domingos atirados ao Mister Jaime Correia em campo. Claro que houve dois ou três momentos de nota: o belíssimo pôr do sol no horizonte a cair sobre a vila de São Martinho do Porto, os curtos momentos de silêncio em que o colega ao nosso lado aproveitava para respirar e, esteticamente bem menos relevante, o golo do Maurício Marques, saído de uma recarga a um bom (atenção, não fantástico, não excelente, apenas bom, pois senão tinha logo entrado à primeira, caro Maurício vê se melhoras nesse capítulo) remate de fora da área, nascido de uma assistência inicial do Sérgio Ventura à entrada da grande área a quem temos de agradecer também a singular visão de um par de ceroulas estraçalhadas à tesoura.

A verdadeira lufada de ar fresco veio a seguir ao intervalo com a entrada em campo do Enderson Domingos, não por ele ter acrescentado algo à equipa, mas por ter abandonado o banco deixando-nos envoltos num aliviante clima de paz e calmaria, e não fosse o penálti assinalado por uma falta sua, suscitando-lhe novo e espumoso ataque de raiva, tínhamos com certeza tido uma das mais deleitosas e angelicais sestas da nossa vida. Em troca, vimos o Carlos Correia efetuar uma das maiores defesas da sua carreira, desviando a bola da baliza graças à Força e aos seus poderes de Jedi. Os mais descrentes e realistas diriam ter sido somente um falhanço escandaloso do adversário e que acreditar nisso era infantil. A esses teríamos respondido: oh, têm toda a razão. E contudo, logo a seguir, o João Coelho conseguiu fazer uma finta, ganhar um ressalto, passar um defesa, correr com a bola nos pés e assistir o Sérgio Ventura para o segundo tento da tarde (e da sua conta pessoal na época) que o premiou com um abraço fofinho. Digam lá agora que a Força não existe?

Marcadores: Maurício Marques e Sérgio Ventura