Veteranos do Ginásio Vs. Veteranos do S.V. Oberwolfach: 1 – 1

Veteranos do Ginásio Vs. Veteranos do S.V. Oberwolfach: 1 – 1

15 Maio, 2018

Quem foi que disse que o futebol eram onze jogadores contra onze e que no fim ganhavam os alemães? Gary Liniker, não foi? Pois, o britânico estava enganado: os Veteranos do Ginásio conseguiram a proeza de empatar. Pura sorte, dirão os mais crédulos e desdenhosos. Ora, a esses teremos então de esfregar-lhes na cara bexigosa com declarada efusividade o milagre da estatística: esta foi já a terceira vez que tornámos a empatar com os germânicos do S.V. Oberwolfach. Que não era uma equipa qualquer, tendo em conta que provinha dos obscuros vales da Floresta Negra no sul da Alemanha que tantas e tão tenebrosas histórias inspiraram no passado aos célebres irmãos Grimm. Mas isso são apenas velhas fábulas originadas pela mente distorcida de uma dupla de escritores apostada em assustar as crianças, dirão novamente os cínicos. Mais uma vez, a esses pedimos que perguntem ao Mário Barreiro o que foi sofrer na pele, ou neste caso naquela sua perninha raquítica que tão elegantemente coxeia pelos campos deste nosso país, o ímpeto avassalador de um dos ditos alemães, ainda não estavam decorridos vinte segundos após o início da partida. Provavelmente, ele declamará os mesmos impropérios e pragas que endereçou ao referido atleta que, mesmo não tendo retirado na altura o sentido imediato dos mesmos, por certo deve ter compreendido pela marcante expressão do seu emissor a verdadeira essência em que consistiam.

Curiosamente, passados poucos minutos esse atleta forasteiro saiu de cena lesionado sem que ninguém lhe tivesse tocado. Ficámos, portanto, a pensar na extraordinária coincidência destes factos aparentemente sem qualquer afinidade ou ligação entre eles e se porventura o Mário Barreiro não teria encerrado dentro de si alguma espécie de vocação de necromante ou secretos poderes de feitiçaria. Uma dúvida que depressa ficou esclarecida ao verificarmos que isso não lhe serviu de nada para evitar o primeiro golo desta disputa internacional no belo Estádio Municipal de Alcobaça aonde finalmente o nosso grupo conseguiu voltar a pôr os pés depois de tantos meses de ausência imposta. Um golo, contudo, que havia sido o produto natural de uma primeira parte onde, de facto, os visitantes haviam feito mais por isso e imposto aquele domínio prático e totalitário que naturalmente costuma marcar a forma de estar das formações alemãs sempre que as vemos jogar e que aqui se tornou a confirmar. Assim foi na realidade que se chegou ao intervalo dando razão à teoria de Liniker e cedendo à triste fatalidade dos números e da competência dos criadores da BMW e Mercedes. Contudo, se a Alemanha ficou conhecida pela produção destas belas marcas automobilísticas, nós somos conhecidos por termos produzido o Salvador Sobral e por o aturar todas as vezes que abre a boca sem ser para cantar. E graças a esse espírito, as coisas iriam mudar.

Nunca um conjunto alemão tinha sido tão vulgarizado em campo provavelmente desde o longínquo confronto em que a seleção portuguesa aplicou a chapa três à Mannschaft no Europeu de 2000 com o afamado hat-trick de Sérgio Conceição (esse malandro). Com uma substancial diferença: a de termos marcado em vez de três golos apenas um em contraste com as inúmeras e escandalosas oportunidades criadas e esbanjadas ao longo da segunda parte. Parecia aquele fado habitual que ilustra a típica capacidade germânica para a eficácia face à queda natural do lusitano para o desperdício. Até que o Sérgio Ventura arrancou uma oportuna falta à entrada da área. Seria o momento da tarde. O instante em que o autor desta crónica imbuído de uma qualquer chama interior que o assolava e com a mais inaudita e profunda convicção de matador (também pode ter sido o genuíno desejo de tirar protagonismo ao Rui Alexandre e impedi-lo de atirar o esférico contra a barreira como habitual, mas nunca o saberemos) resolveu assumir a marcação do livre. Só para que conste, nunca na sua vida ele tinha alguma vez concretizado de livre. Que fique bem esclarecido: nunca. Até àquele dia e àquele instante em que a Divina Providência decidiu abençoar-lhe o remate rasteiro e colocado ao canto da baliza fazendo a bola penetrar pelo único orifício por onde poderia penetrar em direção ao fundo das redes. Quase tão inacreditável como a inviolabilidade do guardião Carlos Correia na segunda metade pelo quinto jogo consecutivo. O nosso pequeno Manuel Neuer.

Marcador: David Mariano