E o jogo fez-se. Muito em jeito de peladinha e bem descontraída. Com um remendo aqui e uma costura acolá. Contra todas as probabilidades, numa semana em que todos os obstáculos surgiram. Sempre pondo em causa a realização do jogo. Parecia a tempestade perfeita. E logo em clima de estreia entre um par de equipas que até aqui nunca se haviam encontrado.
Mas passemos a contextualizar: primeiro não tínhamos campo devido à indisponibilidade do Estádio Municipal de Alcobaça que ao que parece estaria ocupado com uma partida de futebol feminino do clube concessionário (nada contra o futebol feminino, se há coisa que a malta da bola gosta é de futebol e exemplares da espécie feminina), mas temos a sensação que caso não se tratassem de equipas de futebol feminino, naquele dia estariam ali sempre nem que fosse um par de equipas de caracóis aos pontapés ao esférico. De forma que nos dedicamos à mendicidade durante uns dias e logo com frutos na vila da Benedita (o motor deste nosso concelho, não haja dúvida), onde o clube local foi generoso o suficiente para desmarcar um jogo de treino das suas camadas jovens para dar-nos a hipótese de acolher condignamente o Núcleo de Veteranos do Recreio Pedroguense, também apelidados de “Os Canecas”.
Ora, “Os Canecas” na manhã de sábado, ou seja, do próprio jogo, enviam então um e-mail avisando que não poderiam estar presentes devido à ausência da maioria dos seus atletas mais preocupados com a campanha autárquica do que com um belo convívio desportivo (obviamente não conhecem o nosso Presidente que sabe bem quais são as verdadeiras prioridades nesta vida) solicitando a anulação do jogo – e sublinhando que apenas dispunham de seis, estão a ler bem, 6 (agora em forma numérica) jogadores. Obviamente, parte do nosso aparelho reprodutor rolou pelo solo abaixo e só com muita dificuldade conseguimos restitui-los ao seu local original depois de convencermos a tal meia dúzia de atletas a cumprir o compromisso a que tantos outros se haviam recusado esgrimindo valiosos argumentos trocados por via telefónica. Que lhes emprestaríamos os melhores da nossa equipa, que o Nuno Sousa faria o jogo inteiro por nós e o Apolinário por eles (oferta gentilmente recusada já que tinham um guardião claramente melhor – e mais alto – do que estes dois), que em Alcobaça havia uma casa de meninas condigna, que o Restaurante Trindade havia acabado de conquistar a sua terceira estrela Michelin.
Felizmente, tudo isto os convenceu a marcar presença, vá-se lá saber porquê. Com um ligeiro atraso, é certo, o que até deu jeito para o António Carvalho acelerar a tempo de matar o vício vindo da labuta em Lisboa. Sendo que eram somente seis, estão a ler bem, somente 6 (outra vez em forma numérica) os jogadores oriundos de Pedrógão Grande. Contudo, e com muitos jogadores emprestados a coisa fez-se – parecia mesmo a geringonça do futebol veterano. Uns heróis, é preciso dizê-lo, que lutaram pela imagem e dignidade do seu clube e muito nos honraram com a sua presença – e isto escrevemo-lo sem qualquer ponta de ironia. Naturalmente, o resultado foi o que menos interessou nesta circunstância, mas a verdade é que de uma goleada por cinco bolas a uma (5 – 1, para os que mais uma vez preferem a forma numérica) ninguém os livrou; que isto a malta não anda aqui a brincar – sendo que o golo contrário até foi marcado pelo autor desta crónica e os restantes também pelo autor desta crónica, a par do Hélio Aurélio, Sérgio Ventura, Rúben Silva e João Coelho. E sim, é oficial: o Rúben Silva está de volta.
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